CRÔNICA: “A arte vive, mesmo sem Hannelore Shops…”; leia artigo de Ezio Garcia

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Ezio Garcia – Jornalista

Corria o ano de 1982, e com ele a realização da primeira eleição direta para governador do Estado, prefeitos e vereadores (menos os das capitais) após o período da ditadura militar, em que se elegeu também senadores, deputados federais e estaduais, tudo em 15 de novembro daquele ano, cuja posse dos eleitos se daria só em março do ano seguinte.

Em Mato Grosso a campanha fervilhava e em Nova Xavantina idem, com os dois lados da arena política se debatendo na contenda: os que representavam o regime, o PDS, que depois virou PFL, e a turma da oposição, representada pelo MDB, que depois virou PMDB e depois MDB de novo.

Durante a campanha, visitou Nova Xavantina a comitiva dos candidatos do PDS, tendo à frente os candidatos ao governo Júlio Campos e ao senado, Roberto Campos -guru do chamado pensamento econômico liberal conservador, forte influenciador das ideias do então ministro da Economia Delfim Neto e na época, embaixador do Brasil em Londres, cargo que se desligara para concorrer às eleições.

Em nosso município, organizou-se para a comitiva uma apresentação de balé clássico nas escadarias do Templo da Sociedade Brasileira de Eubiose, já que o presidente do PDS de NX na época, o historiador Archimedes Carpentiere (in memorian), também era Administrador da SBE local. O fato é que o evento aconteceu numa noite de gala, com espetáculo de altíssimo nível, que chamou a atenção mais dos visitantes, do que da população local, que não entendia direito o que aquilo queria dizer, mas respeitava.

MANCHETE

Meses após, em entrevista à poderosa revista Manchete, do grupo Bloch, a rede globo impressa de então, perguntado sobre o que mais lhe chamara a atenção em nosso Estado, ele que acabara de chegar de Londres, o senador já eleito foi direto ao ponto:

“O lugar que mais me impressionou foi uma cidadezinha chamada Nova Xavantina. Lá assisti a um número de balé clássico impressionante, diante de um Templo de arquitetura grega lindíssimo, dança feita por uma exímia bailarina, que me lembrou e muito Isadora Dunkan”.

A bailarina era Hannelore Shops. A revista correu de mão em mão em Nova Xavantina, todos estupefatos com a citação. Estávamos sendo vistos e falados dentro e fora do Brasil.

HANNE

Hanne foi pioneira absoluta da arte, da dança e da pintura em Nova Xavantina. Chegou aqui por volta 1979, vinda de São Lourenço-MG com seu marido Kurt e o filho Tony, até hoje residindo e trabalhando em NX.

Seu forte sempre foi a dança, o balé clássico, forma de arte com a qual se notabilizou e ajudou grandemente a impulsionar o município na prática, tendo formado alunas dançarinas que hoje dão aula de balé, sendo a mais conhecida a bailarina Andréia Oliviere.

Personalidade do teatro, foi grande impulsionadora da criação e apresentação de peças teatrais no município e região. Foi dela a ideia original da realização da Mostra de Teatro Estudantil, realizada por vários e vários anos e décadas por outros grupos teatrais.

De forte presença na vida diária da comunidade, participava com afinco das reuniões políticas, se preocupava com os destinos do município, nunca ficando omissa diante de qualquer situação. Atuava firmemente nas campanhas eleitorais, oriunda do grupo e do tempo de José Frederico Fernandes. Tinha um lado, um segmento e uma posição política definida, a qual defendia ferreamente.

Sua força interior era tão grande que julgou capaz de vencer um câncer de mama, que escondeu até o último momento, quando não havia tempo para mais nada e veio a óbito, em 21 de novembro de 2021, há pouco mais de cinco meses, no hospital municipal.

IMORTAIS

Há pessoas, cujo exemplo de vida é tão forte e marcante, delineador de posturas e condutas, construtores de estradas mentais e psicológicas, que quando morrem, saem da face da terra mas não da vida da comunidade. Os exemplos são vários: Arquimedes, Ariosto, Hanne, Drª Jéssica Caetano…e tantos outros. São pessoas que não morrem…

Não consigo andar pelas ruas do bairro Xavantina Velha e pensar que Hannelore Shops não está mais lá. Me acostumei com a sua presença, mesmo sem vê-la, sem se falar, sabia que ela estava lá e a qualquer momento poderia encontrá-la. “Olá comadre…”, “Oi compadre…”.E ela sempre nos dava uma lição de perseverança, resistência e força interior.

Hoje a sua casa na Av. Expedição Roncador Xingú está fechada, mas vejo a mesma luta e perseverança no grupo de artistas e artesãos que fazem a sua feira artesanal aos sábados no complexo balneário. São bravos e guerreiros e mantém a luta viva. Sim, a arte vive, mesmo sem a Hanne.

Abaixo, um breve relato do seu currículo, com sua foto, da sua casa e da feira de arte e artesanato dos artistas e artesãos locais, que se realiza todos os sábados, no complexo balneário:

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